A importância de fazer diferente (#058)

Por Fabiana Vitorino

Você já pensou em desistir em algum momento da sua carreira? Já chegou numa fase onde o que você estivesse fazendo não era tão interessante ou estava cansativo, sem graça, repetitivo demais, não estava permitindo que você pudesse criar? Ou até aquela questão: talvez você só não soubesse como fazer diferente e algo te dizia que você não estava feliz, mas era difícil assumir isso para você mesmo.

Bom, se você ainda não viveu isso, pode ser que você viva em algum momento da sua carreira. Eu não sei se você está começando, se você já tem um tempo de jornada, se você já mudou de carreira, mas eu te convido a ouvir hoje a segunda parte da minha história, da minha trajetória profissional, conforme prometido.

Esse episódio tem a intenção de contar algumas etapas que eu passei e que não foram lá tão bonitas, mas que foram extremamente importantes para mim, porque eu fui descobrindo sobre mim mesma e sobre o que eu realmente gostaria de fazer como profissional.

Se você está chegando hoje, eu sou Fabiana Vitorino, sou psicóloga, consultora de carreira, sou mãe da Bianca e sou uma pessoa que está sempre em busca de se melhorar, de se transformar e de buscar também recursos que possam verdadeiramente me conectar às outras pessoas que chegam até mim, seja através das minhas sessões como terapeuta, seja através desse podcast, seja através dos meus conteúdos no Instagram… Tudo é uma parte de mim onde eu procuro me colocar inteira, disponível e sempre presente.

É com alegria que eu continuo a minha história. Pode ser que alguns aqui já conheçam parte dessa história, mas achei muito legal poder trazer ela em etapas, porque acredito que a nossa vida é como se fosse um roteiro, onde vai ter momentos mais up, mais interessantes, mais energizantes, e momentos como se fossem um vale, de repente a gente abaixa, desanima, tropeça. Não existe a melhor ou a pior parte, todas são significativas, e tentar jogar alguma delas fora é o que vai fazer com que a nossa caminhada, a minha e a sua, se torne menos interessante.

Então vamos lá! Te convido a ficar aqui comigo e no final, já sabe, pode bater aquele papo comigo, pode me dar retorno do que sentiu, do que pensou, se de alguma maneira a minha história reverberar em recursos pra sua, eu vou ficar muito feliz.

Como eu contei na primeira parte da história, na semana passada, falei um pouquinho da minha escolha pela psicologia, e continuando hoje, apesar de eu fazer muito bem feito o meu trabalho – eu já contei algumas vezes que os meus pais sempre foram pessoas que me ensinaram a fazer as coisas corretas, da melhor forma bem feitas –, eu era uma boa profissional, digamos que eu era certinha, não que eu não seja hoje, mas eu costumava cumprir bem o meu protocolo de ir lá fazer minhas sessões, atender as pessoas que me buscavam. Eu não tinha um foco, então qualquer que fosse a pessoa, a demanda, a necessidade, eu topava, eu dizia sim, porque afinal de contas aquilo tinha sido o que eu aprendi na faculdade.

Eu atendia de criança a idoso, casal, enfim. E só terapia. E esse processo terapêutico me cansava muitas vezes, porque são demandas das outras pessoas, são histórias emocionais, relacionais e isso, obviamente, chega e impacta você, que é a pessoa que está ali recebendo, que está ouvindo, que está ajudando. E naquela época eu não sabia primeiro como me proteger emocionalmente, como me cuidar para também estar forte e disponível para ajudar a outra pessoa. Eu só sabia buscar uma outra terapia, que já é maravilhoso, é um ótimo recurso, mas depois, com o tempo, fui descobrindo que eu precisava de mais do que uma terapia, eu precisava me cuidar em outros níveis também.

Eu não sabia muito bem como separar isso e eu ia lá fazer aquele trabalho excelente, mas às vezes eu ficava muito esgotada, muito cansada e talvez até por ser recém-formada – é um movimento comum que eu percebo, de querer fazer muito, de querer ajudar muito, de querer quase que resolver o problema para o outro –, e os anos da profissão, uma maturidade, a aprendizagem que você vai fazendo ali no dia a dia foram me ensinando que o meu verdadeiro lugar, o tanto que eu podia ajudar e o tanto que era realmente responsabilidade da outra pessoa. 

Mas tudo isso me cansava na minha rotina e muitas vezes eu me perguntava se eu estava na profissão certa, se eu era feliz, se era aquilo mesmo, se era daquele jeito, e ao mesmo tempo que eu me via desanimada, um pouco desiludida, pensando que não era muito daquele jeito que eu queria fazer as coisas, eu não sabia como fazer diferente, eu não sabia se eu poderia criar coisas diferentes do que eu estava vivendo e eu também tinha muito medo de assumir esse sentimento. Porque assumi-lo, para mim, naquela época, parecia que eu estava fracassando, que eu não era uma boa profissional, que eu ia decepcionar as outras pessoas quando elas descobrissem, por exemplo, meus pais, amigos, clientes… E aí como ficaria a imagem daquela boa psicóloga e se de repente eu não quisesse fazer mais nada daquilo, se eu quisesse abrir mão daquela profissão e se eu quisesse começar uma coisa diferente, nova.

Essa angústia ela me consumiu por muito muito tempo, então já vai aí uma dica: hoje eu falo muito isso pros meus clientes assim, a importância da gente assumir os nossos sentimentos, reconhecer que não está legal e buscar ajuda. Está tudo bem escancarar isso, sabe? É difícil, é um processo doloroso às vezes, mas é muito importante. Porque eu passei não foram nem dias, foram meses, talvez até anos sentindo isso. Tinha fases de eu ficar mais feliz, de eu ficar mais desconectada, de eu ficar mais entregue. E aí depois eu fui perceber qual era a diferença, que às vezes era o tipo de demanda, o tipo de cliente, as coisas que eu fazia me deixavam mais leves ou mais pesadas. E eu fui deixando aquilo me consumir por um bom tempo, porque eu não tinha coragem de reconhecer que às vezes eu não estava bem mesmo.

Eu acho que muitas profissões entram nesse lugar que é assim: se você não está bem, é muito difícil você fazer um ótimo trabalho, você é o seu próprio ambiente de trabalho e a psicologia é inteiramente isso. Então eu acho que eu fazia sim um bom trabalho, mas eu sentia que eu não estava ali no meu total potencial, porque eu estava questionando tudo. 

Nesse meio tempo eu mudei de clínica várias vezes, eu estive em sociedade, depois eu fui trabalhar sozinha, e sempre ali naquela dinâmica da clínica, da clínica, que é o mais falado na psicologia, parece que é o suprassumo, como se fosse o lugar mais correto de você estar. E teve uma época que eu estava realmente bem descrente e decidi entrar para um negócio novo, diferente, totalmente fora da minha visão de mundo, daquilo que eu acreditava, e que eu nunca imaginei que eu fosse topar, mas naquela época teve um objetivo. Eu estava bem desanimada também com a parte financeira, eu ficava num no empate, ganhava um tanto, conseguia pagar as contas e não tinha lucro, não tinha um a mais, então ficava aquela sensação que não estava crescendo também nesse aspecto financeiro. E aí eu decidi buscar algo que pudesse me ajudar mais, financeiramente.

Eu descobri a tal da Mary Kay, não sei se todo mundo aqui conhece, mas é uma marca feminina e também tem algumas coisas masculinas, mas é de estética, de beleza, de cuidados com a pele, de maquiagem, e tem toda uma história: uma empresa norte-americana com toda uma ideia de carreira, da mulher ser colocada como alguém que pode se cuidar, que fica bonita, que se cuida com os produtos e leva aquilo para as outras mulheres e que transforma a vida das mulheres.

Eu fui me permitindo entrar naquele mundo rosa – como eu brincava na época –, onde eu ia nas reuniões, eu participava dos eventos e ficava naquela energia de empolgação, de alegria e fazia as minhas vendas, ia na casa das clientes, me relacionava com as pessoas e levava produtos e, apesar de eu ter percebido ao longo de um bom tempo que eu fiquei na empresa, que eu não estava realmente ganhando dinheiro, talvez porque eu também ou não punha energia da forma certa ou porque no fundo o que mais me tomava interesse naquela história toda eram os relacionamentos, era o contato, e eu brinco que foram as coisas que eu mais aprendi na época: me cuidar, lembrar que eu era importante antes de poder disponibilizar meu cuidado para o outro, poder ficar mais bonita, mais cuidada esteticamente, algo que eu não dava muito valor antes, eu achava futilidade e bobeira; ter planos e metas ao longo do mês, de quanto eu quero ganhar, quanto eu preciso ganhar e como eu vou fazer para conseguir isso e ter uma estrutura de ideias, de planejamento, e criar momentos onde eu pudesse me energizar daquele trabalho, então eram os encontros com as outras mulheres, com as outras consultoras, ir até o cliente etc.

Foi todo um universo de experiências que eu tive, que me trouxeram alegria, que me trouxeram empolgação, que me trouxeram um olhar novo para a vida. E eu fui desenergizando cada vez mais da psicologia, quase fechei as portas naquela época. Eu me lembro que eu fui sendo tomada por aquele mundo, para aquele universo. Entrei brincando que eu queria só ganhar um pouco a mais ali e, de repente, eu já estava querendo ser a diretora Mary Kay, porque é isso que a empresa traz pra nós…

Só que como boa psicóloga que eu era, como alguém que tinha toda uma formação em desenvolvimento humano, entendia que cada pessoa é de um jeito, cada pessoa tem interesse, necessidades e projetos diferentes e que não dá para generalizar nada pra ninguém, eu fui começando a questionar aquele universo. Não que ele estivesse com problema, mas eu fui percebendo que nem todo mundo nasceu para estar ali, para trabalhar desse jeito, apesar deu amar de estar ali vivenciando aquelas experiências, eu gostava muito de estar nos eventos, eu vi as mulheres lá no palco, dando palestra e nos empolgando, e eu percebi que algumas experiências eram muito legais, mas em si vender o produto não era o que me trazia alegria.

E aí comecei a perceber que eu tenho um produto muito potente, que eu acredito muito, que é muito maravilhoso e que eu posso transformar a minha forma de fazer ele através do que eu estou aprendendo aqui – que era a própria psicologia. – Então eu percebi que as coisas que mais tinham a ver comigo e que me conectaram naquele negócio era o relacionamento com as pessoas, o transformar a vida do outro através daquilo que eu tinha para falar, era a vontade de estar lá no palco levando uma fala interessante, era fazer trabalhos com equipes, grupos etc. Falei: “Gente, isso tem a ver com a Fabiana, não tem a ver com a Mary Kay!” Mas a Mary Kay me ajudou a despertar, a perceber o que eu gostava, a perceber o que eu estava deixando de lado, a perceber o que eu poderia fazer diferente, então depois de longos meses eu realmente decidi sair. Agradeci muito a experiência, até hoje eu sou muito grata às pessoas que eu conheci e a tudo o que eu vivi lá.

Mas eu retomei a psicologia, e no próximo episódio, na verdade, eu vou contar melhor sobre como eu retomei, o que que eu fiz de diferente, quais as permissões que eu pude me dar para que a minha profissão, a minha carreira, que não é uma caixinha fechada, apesar de eu ter aprendido assim, poderia ser feita de novas formas e, aí sim, eu tive a grande sacada: não é a psicologia que é o problema, não é que eu não quero ser psicóloga, não é que eu não nasci pra isso, é a maneira que eu venho fazendo, é o jeito, é o jeito fechado, às vezes rígido, de ser só terapia, ou de achar que eu tenho que atender todo mundo que chega, senão não estou sendo uma boa profissional, é o jeito que eu organizava meu tempo, a quantidade de pessoas que eu atendi por dia… Foram essas percepções que me mostraram o que eu precisava fazer diferente. E aí eu sou muito grata à Mary Kay por isso. 

Então foi importante passar pelo vale das sombras, como eu brinco, do quase desistir, e tem pessoas que desistem e está tudo bem. Mesmo que seja para retomar de novo, na mesma profissão ou numa profissão diferente, porque eu percebi que foi como uma fênix mesmo, eu percebi que eu morri e renasci das cinzas, porque eu me transformei numa psicóloga totalmente diferente, com novas formas de fazer as coisas, e que não foi da noite para o dia. Levaram alguns anos para eu ter essa consciência, essa percepção, para depois eu poder fazer mudanças.

Fico pensando: se eu tivesse o conhecimento que eu passei a ter depois, e se eu tivesse tido a coragem de fazer diferente antes, talvez tivesse sido melhor, eu tivesse caminhado com menos tempo ali naquele de desafio e depois teria renascido de uma forma mais rápida? Não sei, porque não existe o “se”. Tudo o que foi, foi, era o que eu dava conta, era o que foi possível, era o que eu tinha para viver e foi importante da maneira como foi.

Então, antes de você ficar se cobrando, se exigindo, achando que você devia ter feito algo assim, lembre-se: a gente faz aquilo que consegue, com os recursos que tem naquele exato momento. Essa é a melhor forma da gente encarar a vida e de poder seguir com o melhor que nós temos.

Eu espero que essa parte da minha história te ajude, talvez você possa viver algo parecido ou já esteja vivendo ou já tenha passado. E que te sirva de estímulo para olhar também para a sua carreira. Semana que vem eu continuo essa história, contando sobre as descobertas que eu fiz após essa fase e tudo que eu construí a partir daí.

Muito obrigada pela sua audiência, compartilhe com quem você sente no coração que pode também se despertar para esse conteúdo, da carreira, da profissão. Tchau, tchau. Um abraço!

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