O que realmente faz sentido? (#056)

Por Fabiana Vitorino

O que acontece quando uma grande mudança toma o espaço na sua vida? Toma todo o espaço da sua vida. Renascer, renascimento. Nascer de novo. Deixar morrer, deixar ir. Transformar-se. Metamorfose. 

O que essas palavras têm a ver uma com a outra? Eu não sei você, mas eu vivi uma grande metamorfose, uma grande renovação, um grande renascimento, depois que me tornei mãe. Eu que sempre achei que a profissão, a carreira seria a mais importante durante toda a minha vida, e permitia que esse lugar do trabalho sempre tivesse o centro das atenções para mim, me vi realmente muito surpresa ao descobrir que a maternidade passaria a ocupar um lugar ainda mais importante do que a carreira. 

É sobre isso, sobre as transformações que eu descobri na minha vida, no meu jeito de ser, de pensar e de agir, depois que me tornei mãe, e o que eu fiz com a minha carreira, que eu converso hoje nesse episódio. Chega mais, vamos participar. Eu espero que essa conversa te encontre aberto, disponível, que ela te toque e quem sabe que ela também te transforme.

Eu sou a Fabiana Vitorino – para quem está vindo aqui hoje pela primeira vez, ouvir essa história –, sou psicóloga, sou mãe, sou consultora de carreira, palestrante, podcaster. De alguma forma eu me considero essa produtora de conteúdo que descobriu que A psicologia pode ser mais do que apenas um lugar clínico, dentro de um consultório, ou até mesmo uma palestra, que é o que geralmente a maioria dos psicólogos fazem. Nós podemos estar em vários lugares, de várias formas, ajudando as pessoas com tudo aquilo que nós temos e tudo aquilo que nós somos.

Para contar essa história eu quero voltar um pouquinho antes. Quando eu decidi ser mãe e me permiti viver essa experiência tão transformadora da maternidade, eu realmente vivi coisas muito diferentes, muito maravilhosas. Eu gosto de contar que a Bianca, minha filha, me ajudou a sair do tempo de produção, desse tempo do trabalho que eu vivia antes, do tempo do fazer, do tempo da correria, de ter sempre mil coisas para fazer e para realizar, do tempo do resultado. Ela me convidou para um outro tempo, para entrar no tempo do sentir, do existir, do se conectar, do esperar e do se entregar. 

Na verdade eu, de alguma forma, ensaiava viver algumas dessas coisas, eu trabalhava sobre isso com as pessoas, eu ajudava as pessoas a viverem essas experiências, mas no fundo no fundo eu ainda ficava muito presa nesse tempo da produção, como se eu tivesse que estar sempre correndo atrás de um relógio e resolvendo muitas coisas, e sem muito tempo para mim, inclusive para cuidar de mim, como se eu tivesse indo para algum lugar muito importante. E a maternidade me fez esse recuo, essa parada, esse repensar de caminho.

E o que eu achei que foi muito legal na minha trajetória: quando eu descobri que a Conversa de Carreira já não era mais o suficiente, eu enfim entendi a mensagem da Conversa com Fabi, que era justamente esse projeto aqui de conversar sobre temas que fossem interessantes, que me instigassem, que me fizessem pensar, que eu acreditasse que, de alguma forma, promovesse uma transformação, um crescimento pessoal e profissional. E eu comecei então a compartilhar os conteúdos aqui.

E veio aquela vontade, aquele desejo de ampliar essa ideia e de unir todos os meus projetos numa coisa só. Então ao invés de Conversa de Carreira, por que não Conversa com Fabi? Já que eu era a Fabi, a psicóloga, a pessoa, a mãe, a profissional, a mulher, que tinha tantas histórias para compartilhar, que tinha tantos recursos para oferecer e que poderia juntar tudo isso num lugar só, onde eu pudesse obviamente continuar meus trabalhos como psicóloga clínica, atendendo as pessoas, fazendo também minhas consultorias de carreira, oferecendo minhas palestras, criando um Instagram com conteúdos similares ao que eu falaria aqui também no podcast e todas as coisas estariam conectadas, e as pessoas, quando chegassem até mim, em algum desses meios, saberia dos outros projetos.

Foi muito legal perceber o quanto as coisas fluíram e eu não precisei me esforçar, naquele sentido de peso, de dificuldade. Eu tenho uma experiência que gosto de compartilhar, que todas as vezes que eu… Não sei se cheguei a comentar aqui, se eu tiver, me desculpe, é uma história longa, às vezes eu passo de novo em alguns pontos dela. Mas o fato é que eu planejei criar conteúdos do Conversa de Carreira muitas vezes, mas às vezes eu produzia muito, às vezes eu produzia pouco e, como comentei aqui, na verdade eu queria fazer outros assuntos e, de repente, ficava travada por que não era carreira.

Quando me permiti, após o nascimento da Bianca, e que eu entendi que eu era uma outra pessoa, que eu já não era a mesma mulher, a mesma profissional, que aquela tinha morrido no sentido positivo da palavra, eu tinha deixado de ser e estava me transformando em uma coisa muito maior, em algo muito mais interessante, mais bonito, porque agora eu tinha uma história a mais que era a maternidade, que é uma grande revolução. Eu entendi que tudo podia caber, que eu não precisava me restringir, e que a Conversa com Fabi era esse lugar de reunião, onde eu pudesse falar dos assuntos que me interessam, dos assuntos que eu acredito que podiam ajudar as pessoas.

E um grande jeito que eu encontrei para unir os meus talentos e aquilo que eu gostava de fazer, primeiro psicologia, ajudar as pessoas, transformação, desenvolvimento humano, com a escrita – quem me conhece mais de perto sabe da minha paixão pela escrita, meus sonhos em relação a escrita e que muitas vezes eu deixei de lado –, a maternidade me fez aguçar de novo esse olhar, retomar o sentido da minha vida, o para que eu estou vivendo, para onde eu quero ir, o que faz sentido. Será que essa carreira, esse trabalho tem a ver realmente com a pessoa que eu quero ser e com a pessoa que eu quero olhar no futuro e lembrar, quero olhar para trás e falar “poxa, valeu a pena essa história que eu construí”.

Quando eu ajudar outras pessoas a fazer esse movimento eu me questionava, mas a maternidade me fez questionar ainda mais e parar de negligenciar projetos que eram tão importantes. Então a escrita passou a ter um lugar muito mais significativo. E entendi que o meu Instagram poderia ser esse lugar onde eu não só produziria o conteúdo por si só, que fosse importante para o desenvolvimento das pessoas, para o crescimento delas, mas que a maneira com que eu fizesse isso também teria muito a ver com a minha história. E eu passei a escrever textos, então todos os meus posts são muito autorais, como a escrita autêntica, conectada, sensível, que tem a ver com aquilo que eu acredito.

Se eu vou falar de um filme, eu não quero só descrever a sinopse desse filme, eu quero falar do que aquilo impactou em mim. Se eu vou contar de um livro, o que eu senti quando eu li aquele livro, quais foram os desdobramentos da minha vida. Se eu vou dar uma dica, quero também falar do quanto aquela dica já fez diferença na minha vida. E aí passei a mergulhar nesse lugar onde eu podia ser profissional, mãe e mulher e pela primeira vez eu não tive medo de expor essa Fabiana completa, eu não fiquei mais na dúvida, questionando se estava certo ou não. Se alguns outros psicólogos fariam aquilo ou não. Eu simplesmente fiz. Porque a minha alma pedia, porque fazia sentido, ou porque então, enfim, eu entendi que eu precisava ser apenas eu, e que essa inteireza é que ia oferecer a grande contribuição como psicóloga para as pessoas.

Então eu entendi quando eu ouvia outras pessoas dizendo que no mundo, onde tantas pessoas podem se mostrar, e com a internet mais ainda, a grande diferença, o grande diferencial não é o tanto que você estudou, os livros que você leu, a sua competência técnica, isso também é importante, e eu já falei isso muitas vezes por aqui, mas é você com a sua história, com aquilo que você viveu, com aquilo que você enfrentou, com aquilo que você sofreu, com aquilo que você chorou, mas também com aquilo que você riu, brincou, se divertiu e amou. Enfim, depois que eu tive a minha filha, eu entendi: já não eram tão importante mais os olhares de crítica, ou será que eu mudo de Conversa de Carreira para Conversa com Fabi? Será que eu crio um Instagram onde eu posso contribuir com esses assuntos? Será que eu…

Eu simplesmente parei de questionar e fiz, e me permiti criar as lives lá no início da pandemia, criar o conteúdo do meu jeito, com a minha escrita, porque percebi que para muitos profissionais a escrita era apenas um meio da pessoa poder dizer o que ela queria, um recurso. Para mim ela é o centro, é aquilo que conecta tudo o que habita dentro de mim, todo o resto se liga através da escrita para mim. É a maneira que eu mais consigo me representar, que eu consigo dizer, que eu consigo me expressar, que eu consigo me mostrar de forma inteira.

Então, nessa construção da Fabiana, a melhor forma de poder contar o que eu penso, o que eu sinto, o que eu acredito e como eu quero ajudar as pessoas, é utilizando a minha escrita. Primeiro ali naqueles recursos do Instagram, aqui quando eu faço cada texto também, quando eu escrevo sobre as lives, quando eu faço os convites, tudo passa pelo meu coração. E eu tenho percebido a diferença na relação com as pessoas, na interação com o meu conteúdo, com aquilo que eu faço, porque o meu coração está muito conectado. Não estou mais pensando se aquela ação tem o efeito de marketing ou não, se vai dar um retorno ou não, e calma, não é que isso não seja importante, mas simplesmente parei de ficar pensando e tentando fazer o que era certo, e passei a sentir e deixar o fluxo me levar, o fluxo das minhas ideias, o fluxo dos meus sentimentos e dos meus projetos também.

Com a maternidade, com essa transformação, eu descobri que esse lugar grande da carreira foi ficando pequenininho, pequenininho, pequenininho e eu desenergizei totalmente, realmente tirei o pé do acelerador, me permiti frear, estacionar e viver todos os momentos com a Bianca, tanto do final da gestação, quanto no parto, depois do início até os 10 meses dela, eu fiquei totalmente entregue, vivendo cada situação, cada momento, cada emoção, tanto as mais desafiadoras, do ponto de vista mais difícil, até as mais maravilhosas e poderosas.

E ao mesmo tempo eu me questionava: Mas o que eu vou fazer? Eu vou trabalhar com o quê? Será que eu vou voltar pra psicologia? Porque já que eu parei tudo e, meu grande medo no passado, ao questionar se eu estava no caminho certo, era: Mas e se eu parar de fazer isso, e se eu deixar de fazer esse tipo de trabalho? Eu vou deixar esses clientes, as pessoas não vão ter minha ajuda? Como se aquilo fosse errado. E como eu parei realmente tudo para poder ter minha filha, para poder viver a maternidade, é como se eu tivesse pela primeira vez a grande oportunidade de começar de onde eu quisesse, recomeçar ou começar algo novo, totalmente diferente se eu quisesse.

Eu me permiti mergulhar em muitos assuntos, eu fui ler um monte de coisa diferente, eu fui estudar, eu fui conhecer assuntos novos assuntos, eu fui mergulhar em hobbies antigos, e comecei a perceber o que me provocava mais, o que me conectava, o que me chamava. E foi uma fase muito legal, onde eu aprendi um monte de coisa diferente, de áreas diferentes da minha, então sai da caixinha da psicologia, que eu acho que é um grande convite que a gente precisa se fazer, que é não ser só a pessoa que entende da sua profissão e da sua carreira. Saia da caixinha, estude outras coisas, conheça outros assuntos, converse sobre tudo que você puder conversar que não seja só a sua profissão.

É muito mais interessante um profissional que tem uma cabeça ampla, uma visão conectada de outros assuntos também. E eu me permiti de design de moda até essa coisa do estilo, da pessoa, como é que ela se veste, como é que ela se mostra, até personal organizer, que é uma coisa que eu sempre gostei também, que é a organização de ambiente, até trabalhar com terapias que nem tivessem a ver diretamente com a psicologia. Enfim, eu fui rodando, abrindo um campo dentro de mim para pensar as várias Fabianas que eu poderia ser.

O que eu percebi? Que nem toda mãe vai viver essa revolução, mãe e mulher, de querer mudar totalmente de área ou querer começar um projeto novo, ou entender que o que fazia já não faz sentido. Talvez você vai continuar fazendo as mesmas coisas, de um jeito novo ou do mesmo jeito, e está tudo bem. No meu caso, eu continuei na psicologia, mas mais uma vez eu preciso fazer uma renovação, uma mudança de olhar, uma mudança da forma de fazer, porque aquela Fabiana já não existia mais do mesmo jeito.

Eu percebi que a Bianca só escancarou um processo que já existia dentro de mim. Ela mobilizou algo que precisava ser visto. E qual foi a minha decisão? Eu descobri que eu podia abrir mão, que eu podia deixar ir, que eu podia deixar o nicho da Conversa de Carreira, não para que ele morresse, mas para que ele se expandisse e que fizesse parte de algo maior que era a Conversa com Fabi. Então eu, Fabiana, estaria ali como alguém que, além de ser psicólogo, trabalhar com carreira, também era mãe, também era esposa, também tinha uma história com um monte de desafios, de altos e baixos, também era apaixonada pela psicologia, pelas pessoas, pelas relações humanas, pelo crescimento como pessoa e profissional, que ama falar de propósito, que ama falar de conexão, de essência, de fazer aquilo que você gosta, de seguir o caminho do coração. Entende?

Todos esses temas foram me tomando, falar de emoções, falar de autoconhecimento… Eu me permiti falar de algo que englobasse tudo. Não é que fica uma coisa genérica simplesmente, na verdade eu descobri que eu voltei para o ponto inicial que me levou à psicologia: eu sempre gostei da visão holística, que foi algo que eu aprendi com a minha mãe. Eu dizia que eu queria trabalhar com a psicologia holística, com uma terapia holística. Eu era meia criticada na faculdade por isso, mas essa era a visão que eu tinha; eu entendia que não dava pra trabalhar com partes, que a pessoa não era uma parte, mas que eu ia trabalhar com um todo, sempre com a visão do todo. Não foi à toa que eu fui buscar a Constelação Sistêmica, que trabalha com a visão do todo. Eu sempre gostei de tudo que tivesse a ver com a holística, com a visão holística. E, enfim, a Conversa com Fabi foi essa junção, foi a construção onde tudo que eu era e tudo que eu ainda poderia ser cabe; eu não preciso excluir nada, na verdade eu englobo.

A carreira também faz parte do que eu trabalho hoje e do que eu falo, por isso as pessoas que continuam chegando para mim, seja individualmente ou em propostas de trabalho, para outras coisas, eu deixo muito claro que eu não deixei de trabalhar com carreira, eu só não trabalho apenas com isso, como eu fiquei por um tempo, que foi legal, mas eu percebi que era pequeno, não era mais só aquilo que eu queria fazer.

Foi isso. A maternidade me deu essa permissão para ser esse trampolim, onde eu tinha tanto medo de pular na piscina das oportunidades, das mudanças, dos projetos e de fazer coisas diferentes, mas que eu não me vi mais com condições de não fazer depois que eu fui mãe. Eu tinha uma questão que era assim, que eu pensava: “Lá no futuro, quando a minha filha for conversar comigo sobre sonhos, projetos, talentos, coisas que eu adoro falar com todo mundo, eu não vou me sentir bem, não vou me sentir honesta se eu não puder falar para ela que eu também tive coragem de mergulhar nos meus sonhos e ser feliz com aquilo que eu acreditava”.

Mesmo que, sei lá, desse errado, mesmo que eu descobrisse que não era aquilo, eu precisava ser fiel a mim, para que eu também possa falar daquilo com a minha filha, e me sinto melhor também com as pessoas que eu ajudava. Então era por ela também, para que ela pudesse ter permissão de realmente seguir os sonhos dela. E aí, mais uma vez, a maternidade acabou me curando e trazendo muito mais ampliação do que redução, como eu achava lá no passado, quando eu tinha medo de ser mãe.

Então a minha mensagem é: não é que você precisa ser mãe ou pai, para mudar, para ter mais coragem, para se jogar mais nos seus projetos, na sua carreira, para você ser mais feliz e conectado com o seu trabalho, mas sim, eu acredito que a vida às vezes traz situações, a gente pode passar por experiências que nos promovem essa mudança de olhar, essa autoconfiança, essa coragem para seguir realmente o coração, para fazer diferente ou para fazer a diferença. A gente só precisa estar atenta para observar os sinais.

Cada vez que você valida esses momentos diferentes do seu caminho, que meio que se tornam extraordinários, ou mesmo os ordinários ali, o simples do dia a dia, todos eles são caminhos que podem te levar para mais perto daquilo que realmente faz sentido pra você. E que você vai estar fazendo o seu melhor e o mundo vai estar sendo muito mais beneficiado. Vamos imaginar um mundo onde todo mundo faz aquilo que gosta ou que é melhor, como serão muito mais interessante essas ajudas, porque no final das contas a profissão é um jeito de ajudar alguém com alguma necessidade.

Espero que, então, você possa ouvir essa história, olhar para a sua história, pensar com carinho. E me conta o que te tocou, o que te provocou; estou aqui bem curiosa para a gente continuar esse papo. Tá bom?

Um grande abraço! Tchau, tchau.


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