O que pedem as emoções (#055)

Por Fabiana Vitorino

Olá, seja bem-vindo ao meu podcast Conversa com Fabi! É sempre uma alegria, uma honra ter você aqui comigo recebendo algo que eu faço com coração, com alma, com intenção, e de verdade eu espero que te encontre com o coração aberto e podendo fazer bom uso disso que a gente conversa nesse podcast

Eu sou a Fabiana Vitorino, sou psicóloga, consultora de carreira, mãe da Bianca, uma sonhadora, uma pessoa multipotencial, que gosta de fazer vários projetos diferentes e ao mesmo tempo, e que tem se descoberto – nessa nova etapa da vida, na maternidade – com muitas permissões, para fazer coisas novas, coisas diferentes, e seguir novos sonhos. Então é desse lugar, de uma mulher em transformação, em descoberta de si mesma a cada dia, mas também terapeuta, que eu te convido a conversar de um assunto novo, que eu sinto no coração e que eu acredito que pode realmente acessar você e a sua história.

Hoje fiquei muito tocada a conversar um pouquinho sobre essa história das emoções. Mas mais do que a emoção, é pensar sobre a educação emocional, algo que a gente não aprende geralmente na escola, ou em casa, mas que é extremamente importante, porque nos fornece pistas para que a gente possa se conhecer e também potencializa os nossos recursos internos para lidar com a vida, porque afinal de contas, emoção é algo biológico, que veio conosco desde que éramos homens das cavernas, e mulheres das cavernas, e que precisávamos enfrentar desafios ali ao longo do dia, precisávamos procurar comida, precisávamos caçar, precisávamos nos proteger, para que a gente pudesse se manter vivo, sobreviver e evoluir.

A emoção tem um papel muito importante na nossa constituição como pessoa e na nossa evolução como seres humanos. Só que, infelizmente, ao longo da nossa história, da humanidade, em muitos momentos as emoções ocuparam um lugar meio que fora do destaque, aquele assunto que é difícil, que a gente não gosta de olhar, nem de conversar, mas que está ali, como uma pedrinha no sapato, atrapalhando nosso dia. E quando ela é colocada nesse lugar menor, acabamos ficando como analfabetos emocionais, ou seja, a gente não sabe o que faz com a dor, com o medo, com a alegria, com a tristeza, com a raiva, e essas coisas acontecem o tempo todo na nossa vida.

Muitas vezes eu percebo que as pessoas tentam esconder, tentam driblar, tentam às vezes até fingir que isso não está acontecendo e, qual o resultado final possível e negativo, nós vamos desenvolvendo doenças, mal-estares, dificuldades nos nossos relacionamentos, tudo porque simplesmente não permitimos que a emoção saísse para fora, encontrasse um lugar de ser vista e acolhida.

Hoje a conversa é um pouquinho nessa direção: como que você pode identificar as suas emoções, o que elas pedem para você quando aparecem – porque a emoção pede um caminho, um jeito de se expressar –, o que você pode fazer para que cada emoção possa ser expressa, e o que você vai ganhar na medida em que você puder fazer isso.

Essa nossa conversa de hoje pode valer para todas as situações da vida, para a sua relação com os seus filhos, relação com o marido, com a esposa, com seus pais, com os seus amigos, com o seu trabalho e principalmente com você mesmo. Então vamos lá! Para quem gosta de anotar, pega o caderninho ou então ouça simplesmente, deixa entrar isso dentro de você, enquanto você está aí fazendo a sua caminhada, fazendo uma comida, ou descansando. Que essa conversa possa reverberar e te auxiliar na sua construção diária.

Basicamente existem algumas teorias que falam que a gente tem n emoções. Pela minha formação, aprendi – eu gosto muito dessa possibilidade –, que na verdade a gente tem cinco emoções básicas e primárias, que são, tipo assim, as emoções naturais, que são o medo, a tristeza, a raiva, a alegria e o amor. Então são cinco.

Mas e vergonha, saudade, mágoa, ressentimento? São todas as emoções que a gente chama de secundárias, que podem aparecer de uma outra forma, ou porque às vezes você não está acessando a emoção natural, primária, você acaba demonstrando uma emoção secundária. Mas eu não vou explicar isso aqui agora, porque é mais complexo, e a ideia é que você possa usar esse conhecimento de formas simples e prática, e realmente fazer bom uso na sua vida.

Quando eu falo de emoção do medo, da tristeza e da raiva, o que eu costumo ouvir dos meus clientes, quando a gente conversa sobre isso: "Ah, mas eu não posso sentir essas coisas…", ou ”Raiva? Não, isso faz mal, eu aprendi que a gente não pode deixar nem a raiva vir, que isso é negativo”, ou “Tristeza, aí eu vou entro na depressão, eu vou ficar na bad, eu não vou conseguir nunca mais sair”… Então eu percebo que tem pessoas que ou ficam eternamente na emoção e não conseguem resolvê-la, ou então não entram em contato, porque acham que vão ficar na depressão, na síndrome do pânico, eternamente naquele problema e não vão conseguir se libertar.

E, na verdade, o caminho é: quando a emoção vem, você aprende a expressá-la e ela vai embora, porque ela é biológica, é natural, então ela passa rápido, mas você precisa permitir que ela aconteça. Ok? 

Quando a gente fala que tristeza, medo e raiva são emoções ruins, na verdade elas não são ruins, elas só são desagradáveis, porque quando a gente sente, elas não são gostosas, ninguém fica super, mega gostosinho quando está sentindo raiva, ou quando está com medo ou quando está triste, porque elas causam desagrado, incomodam, seja quem está sentindo ou para quem está convivendo com quem está sentindo. Não é das tarefas mais fáceis administrar essas emoções, mas elas são naturais e importantes, porque cada uma delas mostra que algo não está legal.

Por exemplo, a raiva, pensando lá na história dos homens das cavernas, acontece simplesmente porque você se sentiu intimidado, ou porque alguém invadiu seu território ou porque você sentiu que alguém não tem respeitou, você foi frustrado em alguma coisa que tinha expectativa, ou realmente sofreu um ato de violência, seja verbal, seja físico, então é alguma coisa que te incomodou muito.

A raiva nada mais é do que um movimento para fora, é uma vontade de ir lá e se defender, posicionar, colocar limite, então ela é extremamente importante, graças à raiva a gente sobreviveu, porque a gente às vezes ficava lá, diante de um animal, precisava caçar ou precisava se proteger, e aquela agressividade toda vinha e você conseguia atacar e se proteger.

Só que hoje não tem mais essa necessidade, mas às vezes no trabalho, em casa, consigo mesmo, você pode ficar extremamente frustrado, ou com muita raiva, porque alguém te falou alguma coisa que você não gostou, ou então e aí invadiu o seu espaço físico e emocional, e é importante que você extravase a raiva, só que nós precisamos fazer um contrato, porque a raiva tem uma energia muito catártica, como a gente fala, que é uma energia muito forte, que pode ser usada para o bem ou para o mal. Se você pegar a sua raiva inteira e jogar ela para fora sem saber como fazer, você pode se machucar, machucar alguém, quebrar a sua casa, criar um problemão, e a ideia é que isso não aconteça.

Quais são os meios mais saudáveis de você jogar a sua raiva para fora? Escrever, gritar, cantar, fazer um exercício físico, sair para correr, fazer uma atividade de luta, são todos movimentos que geram energia para o seu corpo, então a raiva pede essa coisa do movimento, da ação, e aí você consegue colocar para fora. Às vezes eu preciso muito falar algo para alguém, mas se eu falar com toda a raiva que estou sentindo agora, eu vou ser muito agressiva, eu vou passar do limite, então talvez eu precise primeiro joga isso num papel, rabiscar, eu preciso escrever, eu preciso gritar dentro de uma caixinha, no meu quarto, ou esmurrar um travesseiro. São maneiras…

E depois aquilo vai me acalmar e talvez eu vou encontrar uma forma de falar de um outro jeito, mas eu vou me posicionar, porque eu preciso pôr limite às vezes em alguma situação. Então é muito importante sentir raiva. Ela nos ajuda a criar espaços na nossa vida onde o outro não invade, onde a situação não me destrua, mas para isso eu preciso estar atento a como eu sinto raiva e o que eu faço com ela. Por que tudo depende do que você faz. Está tudo bem você sentir raiva, o problema é quando você deixa ela estourar e você sai estragando todas as coisas, ou as pessoas ou você mesmo. 

Quando a gente pensa em tristeza, que é uma emoção que está muito crescente nesse momento, eu tenho percebido as pessoas muito mais angustiadas, deprimidas… A tristeza vem de uma perda, ela vem quando algo totalmente inesperado ou até esperado mas que você não queria que acontecesse, acontece. Geralmente a perda de uma pessoa, a perda de uma situação, a perda de uma expectativa, de uma relação… então não é necessariamente a morte, mas é também perder alguém pela morte, e aí eu estou vivendo aquele luto, aquela perda. Mas às vezes eu perdi o emprego, perdi um relacionamento, de repente terminou, ou então eu tinha um animalzinho e ele adoeceu, ele fugiu, ele morreu, ou então estava com uma espera de que algo poderia acontecer, ou eu ia engravidar e de repente eu perdi esse bebê… Olha a quantidade de coisas que nos geram emoção da perda. 

E é muito importante que você possa extravasar a sua tristeza. E aí tem uma outra coisa: socialmente as pessoas têm dificuldade em lidar com a perda do outro. Quando alguém está triste, o que geralmente as pessoas falam? “Não chore, vai ficar tudo bem”, quer dar um abraço e quer que as pessoas saiam logo daquele estado. E aí a gente precisa permitir que as pessoas sintam as coisas que estão sentindo, assim como nós precisamos dessa permissão, porque não quer dizer que você vai ficar eternamente na tristeza, mas você precisa de um tempo para aquilo poder se resolver. E uma das melhores formas de você entrar em contato com a sua tristeza, é tirar um espaço para você: é ficar sozinho, é chorar, é poder deitar e ficar quieto, é pedir um abraço – porque às vezes você quer que a pessoa esteja junto –, é escrever.

Existem maneiras de fazer isso. Tem pessoas que vão para as artes, extravasam aquilo, é um jeito até bonito de fazer. Então percebe como não tem uma regra? Mas você precisa se conectar primeiro com a sensação, eu estou triste, eu estou quieta, estou amuada, e eu preciso respeitar isso, e às vezes eu vou precisar contar para as pessoas, sinalizar para elas que eu preciso de um espaço. Pode ser que eu precise de algumas horas ou de alguns dias, mas aquilo vai passar; confia em mim que vai passar. Se não passar e de repente aquilo for durando meses e meses e meses e eu não tenho coragem mais levantar da cama, é muito diferente; aí pode ser que eu esteja entrando em uma depressão, em algo mais profundo e eu vou precisar de ajuda. Mas geralmente, se a gente cuida da nossa emoção num primeiro momento, se eu permito que ela aconteça, eu fico bem depois, porque eu preciso limpar aquela experiência. Percebe?

E tem a terceira emoção que a gente considera desagradável, mas que é importante, que é o medo, e o medo nada mais é do que um grande recurso que nós desenvolvemos para que a gente pudesse se proteger de situações que são extremamente perigosas, ou então que eu não sei lidar com ela. Então o medo me faz recuar, como se a gente se encapsulasse, aí a gente fica mais paralisado, mais quietinho.

Numa situação de perigo real, o medo é extremamente importante. Mas qual o problema do medo? Se eu fico tanto nele, eu não olho para a realidade, não encaro os fatos reais. Vamos pensar em uma situação que eu até trouxe aqui antes, que é essa história dos sonhos: eu quero fazer algo, mas estou com medo, e se eu ficar imaginando só as coisas que podem acontecer de ruim, que não vão funcionar, eu fico parada; só quando eu estiver boa, só quando eu for perfeita, só quando o tempo amanhecer azul ou só quando tiver um momento extraordinário. Aí eu não faço nada.

O medo é esse balizador, ele tem o equilíbrio entre aquilo que me permite sair, mesmo que eu esteja com medo, e aquilo que me trava. Ou então quando eu não sinto nenhum tipo de medo, mas às vezes eu estou me desprotegendo. Então é importante que, diante das coisas que me causam medo, eu busque informação para poder enfrentar aquela situação. Certo?

E tem outras duas emoções, que são consideradas as melhores, as gostosas, as saudáveis, mas na verdade é porque elas trazem agrado, elas trazem bem-estar na nossa alma, no nosso corpo imediatamente, quando a gente sente elas, que é a alegria e o amor, que são muito parecidas. Elas podem vir de situações parecidas.

A alegria nada mais é do que, quando eu vivo uma situação que eu estava esperando, ou uma novidade, ou uma surpresa, ou eu conheço uma pessoa muito legal, ou então de repente eu ganho um presente, ou então eu recebo aquela notícia que estava esperando, ou então eu vivo uma coisa simples, se eu descubro ali com a minha filha cada momento que ela traz uma novidade, quando ela começou a andar, quando começou a falar, quando começou a comer… São momentos de extrema alegria, porque de repente estou ali despertando para o potencial do outro, para a descoberta de como é um ‘ser humaninho’ que vai crescendo, isso traz muita alegria para uma mãe.

Vai depender obviamente de cada pessoa os motivos da alegria, mas o fato é que é algo que nos preenche, que nos nutre, que nos convida a ficar em êxtase, uma energia que vai para fora, que nos faz ficar animados, e a gente geralmente, na alegria, quer também que as outras pessoas estejam juntos.

Então é uma emoção que convida à partilha, parecida com o amor, que tem a ver com a energia da nutrição, do afeto, do carinho, do afago, quando eu estou com pessoas que eu gosto, quando eu me sinto apaixonado, ou quando eu faço coisas que são bacanas para a minha alma, no meu trabalho ou um trabalho social, uma coisa que eu acredite ou uma ideia que eu coloco no mundo, ou quando eu me conecto com uma outra pessoa, tudo isso me convida para o amor, que é essa emoção da troca, da partilha, que é essa emoção da presença, do se importar com o outro.

E que de novo pede também o estar junto, no amor a gente não quer ficar sentindo ele sozinho, nem a alegria, a gente quer estar com todo mundo; às vezes na tristeza, na raiva e no medo, eu quero ficar sozinha, talvez no medo eu quero ainda uma proteção, uma ajuda de alguém, o que é legal e eu posso pedir.

Então, percebe? Não existe certo ou errado, nem regra. O que você precisa perceber é: como eu tenho sentido essas emoções, se eu estou me permitido senti-las, porque o que de forma geral acontece é que, às vezes na minha história, eu não tive permissão para sentir raiva, então toda vez que eu ficava com raiva, na verdade eu tinha que ficar triste, porque a tristeza já era mais permitida na minha família e isso era tudo muito velado, não é falado né. A gente percebe que quando fica com raiva as pessoas ficam bravas, elas me reprimem, elas não ficam tão próximas de mim, então eu não vou ser amado desse jeito, aí eu escondo a minha raiva e começo a ficar triste sempre.

Ou então é aquilo que as pessoas falam: “Eu estou estressado, eu estou ressentido, estou magoado”. Tudo isso se resume em uma palavra: raiva. E quando a gente assume isso é libertador, porque você pode aprender a extravasar e ficar bem de novo, e aí você vai aprendendo a viver a vida de uma forma mais leve, mais saudável, entendendo que a emoção é um grande recurso, é uma grande força e ela te ajuda a evoluir, no lugar de achar que ela vai te atrapalhar.

Então que você possa, a partir de hoje, se olhar com mais leveza, com mais alegria e amor, e se permitir, na medida do possível, na medida que os dias vão passando, mesmo que você oscile nessas emoções – o que é natural e esperado –, você saiba que elas vão passar, se você permitir que elas venham, que se você organizar um jeito de expressar aquilo e depois continuar a sua vida.

Um grande abraço para você. Depois me conta se esse conteúdo fez sentido, fique à vontade para compartilhar com os seus contatos e eu espero que você tenha uma excelente semana. Um abraço. Tchau, tchau!

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