Saia do ciclo da “muquerela” (#048)

Por Fabiana Vitorino

Você é daquelas pessoas que às vezes guarda boas e excelentes ideias na cabeça, mas não ousa sequer comentar com alguém? Ou pode até ser que você comente, que você troque uma ou duas ideias sobre o que deseja fazer, mas no fundo fica pensando que não é tão bom assim, e que se você fizer não vai dar certo? Ou será que alguém vai fazer igual, e aí a sua a sua cabeça se perde em mil possibilidades de problema, no lugar de solução?

Você é daquelas pessoas que tem bons projetos, morre de vontade de realizar alguns sonhos, mas os pensamentos, a crítica, o mundo, tudo parece maior e melhor, e aí você se fecha ou guarda o caderninho, ou esquece daquela ideia porque, afinal de contas, talvez não seja tão interessante assim que você a execute.

Vamos lá! Se você se conectou com algumas dessas falas… E deixa eu te dar mais um exemplo: quando eu falo de uma boa ideia, pode ser qualquer coisa, você que está me ouvindo vai, de alguma maneira, olhar para aquilo que faz sentido na sua história. Então pode ser um projeto pessoal que você tem vontade de fazer, de realizar, pode ser uma nova habilidade que você queira adquirir, pode ser um novo negócio que você já sonha tem um tempo, uma nova mudança na carreira. Enfim, são várias as possibilidades.

Mas talvez o que vai nos conectar aqui hoje é o que te impede, e o que pode te permitir sair desse lugar da paralisia, do não fazer, do medo, e ir pro lugar da ação, da realização, do fazer e do descobrir como é bom poder viver das suas próprias ideias.

Eu sou a Fabiana Vitorino, sou psicóloga, sou consultora de carreira, mãe, escritora, alguém que se considera multipotencial porque gosta de um monte de coisa, e tem vivido a vida realizando aqui e acolá, como se diz, coisas diferentes ao longo dos anos. Já desisti de muitas ideias e também já deixei florescer algumas delas, e sou muito feliz por todas as vezes que eu disse sim aos meus pensamentos, ao meu coração e à minha alma. E ainda tem coisas que eu desejo realizar, obviamente, e quando eu conto isso para vocês nesse podcast, pode ter certeza que, assim como cada um que está aqui me ouvindo, eu também, como pessoa humana, vulnerável, cheia de questões, também já me vi muito nesse lugar da paralisia, e ainda me vejo, mas hoje com muito mais consciência, com muito mais clareza, e sim, já conseguindo transformar muito mais esse lugar do não fazer para o lugar do fazer.

Então vamos lá, vamos começar essa Conversa com Fabi de hoje, em que esse assunto que está em pauta pode gerar boas inspirações e, quiçá, no final, boas ações para vocês. É com grande prazer que eu construí esse conteúdo e espero que, de verdade, ele te encontre num dia cheio de possibilidades, lembrando que a possibilidade muitas vezes não existe pronta, nós é que fazemos, nós é que vamos construindo, e talvez é daí que já começa essa história de como tirar aquela boa ideia do papel e colocá-la na vida real.

Às vezes eu percebo que muitas pessoas, ou que eu converso na vida de forma geral, ou às vezes até no meu consultório como psicóloga, percebo que o olhar de muitas fica sempre voltado para o problema, para a dificuldade, para a falta. É aquela historinha da queixa, sabe: "ah, mas se eu pudesse", "ah, mas se eu tivesse", "ah, mas me falta", "ah, mas o fulano", "ah, mas o ciclano", "ah, mas o mundo", "ah, mas tem isso", "ah, mas tem aquilo outro"... E a gente vai tecendo “n” possibilidades de não fazer, e esse é um lugar cômodo, um lugar que às vezes está cheio de medo, porque no fundo, ter que fazer algo ou escolher fazer algo – eu prefiro escolher –, é um lugar de coragem, é um lugar de possibilidade.

Mas antes da coragem, a gente precisa de um elemento-chave: você precisa se perguntar o quanto você deseja que essa sua boa ideia esteja de verdade acontecendo. Essa vontade tem que ser grande, tem que ser muito interessante pra você, porque é isso que vai te manter com força, com foco, com persistência, com possibilidade de fazer acontecer, porque sim, vão ter desafios no caminho, vão ter pedras, vão ter problemas, vão ter dificuldades, vão ter muitos momentos para você desistir, mas quanto mais você se mantiver conectado, e você realmente é uma vontade forte – lembrando, independente do que seja a sua ideia –, isso não vai ser a única coisa que vai te manter fazendo acontecer, mas é um grande elemento, talvez o primeiro que eu gosto de colocar, porque esse foco seu precisa ser redirecionado.

Será que você fica olhando só para o problema, para as queixas, ou você tem se permitido olhar para as soluções, para as possibilidades, para a oportunidade? A palavra crise é um ideograma chinês, vem de um ideograma chinês, que significa crise/oportunidade, problema/oportunidade, e apesar de ser um chavão falar sobre isso, é fato que, diante de qualquer situação que você não esperava, que é uma situação nova, atípica, desorganizadora, sempre tem também novos olhares e novas oportunidades ali. Só que isso não está pronto, e é você que vai ter que criar essas condições para que as coisas possam acontecer.

O motivo talvez seja a pandemia, o coronavírus, mas você precisa ser muito honesto com você e se perguntar: "Será que em outro momento da vida eu também já não coloquei outras desculpas nessa história, e quem sabe no futuro eu vou continuar dizendo que tem algo maior que me impede de fazer, ou alguém?” Então seja honesto com você e se faça essa pergunta: "O quanto de verdade eu desejo que essa ideia venha para o mundo?".

A segunda coisa que você precisa se perguntar e perceber é: você está preparado? Se você precisar começar hoje essa ideia, dar o primeiro passo, porque eu também acredito que a gente não tem que estar pronto, até porque nós nunca estaremos prontos, na verdade a gente vai se fazendo. Eu até comentei esses dias na live que inclusive me inspirou para estar fazendo esse episódio – da minha amiga Izabel que também é psicólogo e se formou comigo –, estávamos falando sobre esse assunto, e eu levei uma frase do Mário Sérgio Cortela, que é um grande filósofo e que traz a seguinte reflexão: “nós não nascemos prontos e vamos nos gastando, na verdade nós nascemos não prontos e vamos nos fazendo”, algo desse tipo.

Então essa ideia meio louca de achar que o pronto vai existir, o acabado, o perfeito, o maravilhoso, isso não existe, isso não é real. Se alguém te contou isso, você precisa começar a quebrar essa ideia, modificar o seu pensamento, então você que vai ter que criar as possibilidades e começar de onde você está, com o que você tem, com o que você sabe. E sim, você vai se transformar ao longo do caminho. “Fabiana, mas como? Parece bonito ouvir essas coisas, mas como que de verdade eu começo?”

Aí uma coisa importante: você precisa olhar primeiro para o quanto você tem esperado o momento extraordinário na sua vida. Muitas pessoas não começam as coisas que importam para elas, e que, sim, também podem importar para o mundo, porque elas ficam achando que também tem aquele momento mágico, maravilhoso, perfeito, onde todas as condições vão estar propícias. Oi, isso não existe! Condições propícias é você quem constrói e às vezes é na adversidade, no momento mais crítico, ou na crise, que as melhores ideias saem do papel. Porque às vezes a vida te pede, ela te convida, ela te conclama, ela te cutuca, às vezes você precisa, você tem que fazer alguma coisa.

Então pode ser que você esteja sonhando com algo e pode esperar ou pode ser que você precise agora começar, porque aquilo faz todo sentido, porque você realmente necessita, e aí as condições precisam ser na verdade organizadas a partir de você. Você vai partir do ponto, e aí vai olhar para as suas possibilidades, então é importante que você entenda o quão preparado está. Essa preparação eu chamo assim do lado mais externo, vamos dizer em termos de estrutura, e de um lado mais interno. Essa estrutura externa tem a ver com coisas materiais, por exemplo o aspecto financeiro: essa ideia precisa de dinheiro para existir, o quanto de dinheiro ela precisa, você já sabe, você tem noção, você já pesquisou, você tem uma reserva, você tem uma preparação financeira para isso? Se você não tem diretamente, quais as possibilidades, você já pesquisou?

O tempo, o seu tempo, que é uma coisa extremamente importante, é um recurso extremamente necessário, válido. Como você está de tempo hoje? O quanto de tempo você dispõe para cuidar dessa ideia? E aí lembrando: não volte para aquele lugar do pensamento mágico, "ah, eu preciso de todo tempo do mundo", não. Tempo real, aqui agora, qual a possibilidade?

E os materiais físicos, os recursos físicos propriamente. Vamos supor que você queira escrever um livro, então você tem que ter, sei lá, uma mesa, uma cadeira, você precisa ter às vezes um notebook, ou então um papel, caneta, entende? Esse tipo de recurso que vai realmente te fazer movimentar a ideia, e você também precisa pensar sobre o que você sabe sobre aquilo que você quer executar, o quanto de conhecimento intelectual, formal, cognitivo, do pensamento, você já tem sobre aquilo, e o que você precisa aprender, aquilo que te falta. Então é importante que você faça essa avaliação.

E do outro lado você vai olhar para os seus recursos internos, emocionais, que têm a ver com o seu sonho. O que você deseja realmente fazer, o quanto você acredita na sua ideia e em você mesmo, o quanto você acredita que sabe fazer aquilo que deseja fazer. Esse talvez seja um ponto muito importante, talvez até mais chave do que o outro, porque eu vejo diariamente pessoas que chegam até mim, cheias de boas ideias, cheias de capacidade, mas com pouca crença em si mesmas, e isso faz matar qualquer grande possibilidade, qualquer grande ideia. Às vezes tem pessoas que não sabem muito, que sabem quase nada, mas têm tanta autoestima, têm tanta autoconfiança, têm tanto amor pela própria ideia, que aquilo é muito grande, aquilo faz movimentar e é um grande combustível, que fizesse com que aquele ideal pudesse já existir por si mesmo, só porque eu acredito.

Esse é um ponto importante. E aí tem palavrinhas bonitas, mas que realmente precisam existir na nossa vida, que tem a ver com o quanto de coragem você consegue alimentar o dia a dia para que essa ideia possa virar vida. O quanto de ousadia você se permite ou o quanto tem se permitido viver, o quanto ousado você tem sido para sair dessa caixinha do estabelecido, do esperado. O quanto você tem sido persistente nas suas coisas, quando você se coloca no lugar de persistência, e aí vamos fazer a diferenciação, não é nem a insistência e nem a desistência, aquilo que insiste em cima de algo que você já viu que não funciona, que a vida já te deu todos os sinais para mostrar que aquilo não é bom.

A persistência vem de um lugar de saber que você está indo para um bom caminho, as coisas estão fluindo, mas você precisa continuar. E talvez, na hora que vier a primeira pedra, a primeira crítica, o primeiro desafio, você precisa se manter conectado. E nós vamos falar disso daqui a pouquinho. E a questão da resiliência, que eu falei na semana passada, que é essa capacidade de resistir, de aguentar, de se preparar para estar no caminho e de aprender a suportar, porque isso também te faz crescer.

Então, pensando em todas essas coisas que você vai se preparando, e o que eu acho bonito de deixar para você – e eu já falei disso em outro episódio também, mas para quem está chegando hoje –, a coragem tem a ver com o coração, agir com o coração, agir apesar do medo, agir na vulnerabilidade, porque não existem garantias, em nenhuma vida, em nenhuma história, em nenhum emprego, nenhum trabalho, nenhum negócio, nenhuma boa ideia no mundo. Às vezes você olha para o seu vizinho, ou para uma pessoa no Instagram ou para um livro e você fala: "ah, mas para fulano foi fácil, ele teve todas as condições, ele teve uma família que ajudou, que apoiou…"

Enfim, de novo você está lá naquelas queixas que vão te impedir de continuar no bom caminho e de alcançar o que você deseja. Então, em vez de olhar para o outro e achar que ele estava mais favorecido – o que eu posso te afirmar que não, cada um teve que lutar e passar por duras penas, talvez ele só teve mais força de vontade, de mais coragem –, você precisa olhar para você, para os seus recursos e para as suas condições.

E o que eu acho bacana compartilhar com vocês é que eu ouvi uma vez uma palavra, que é uma palavra criada por um grande professor, um grande mestre que eu tive na faculdade, professor Armando. Ele falou que tem pessoas que adoram ficar na muquerela. A muquerela é o murmurar, queixar, reclamar e lamentar. Enquanto você está no ciclo da muquerela, você não sai do lugar, porque sempre vai ter algo que você vai se queixar, que você vai lamentar, seja sua condição, condição do país, do coronavírus, a condição da sua família, "ah, meus pais não me entendem, não me aceitam, não me apoiam", e sim, como psicóloga eu sei que isso é verdade e que isso pode de fato te impedir. Pode até tentar te impedir na verdade, mas você é que vai ser a pessoa que vai dizer sim ou não para o que vai te ajudar ou para o que vai te barrar.

E uma coisa bacana que eu também compartilhei na live é que eu entendo. Pode ser que você esteja escolhendo um caminho profissional, ou um caminho na sua vida, algum relacionamento, algo que você queira criar, dentro disso que nós estamos conversando, que seja um caminho não muito aprovado pelos seus pais, pelo seu par, pelos amigos, ou pelo grupo que você participa. Eis o maior desafio: seguir por um caminho que ainda não é totalmente aprovado por quem você gosta, mas que faz sentido na sua alma e que você vai precisar criar dentro de você uma força, e também fora de você.

Uma sugestão: procure pessoas que se conectem ao que você acredita, uma comunidade, procure sua tribo. Às vezes quando você está conectado a pessoa que acreditam naquilo que você acredita, por exemplo, eu quero criar um negócio, eu quero empreender, então vá atrás de grupos de empreendedorismo, vá conhecer pessoas na internet, vá fazer aulas, cursos, vá movimentar. Tem muita coisa à disposição hoje. Quero escrever um livro, vá descobrir quem escreve livro, como é que escreve um livro, quem já publicou, como é que acontece, vá fazer curso, entende?

Busque a sua tribo, porque isso pode te dar uma grande força na hora que estiver ali, no dia a dia, no desafio, sem saber muito bem como continuar, e aí você vai ter pessoas que vão te acompanhar, que vão saber te ouvir, e daquelas que você desejava muito, mas que ainda não conseguem te aprovar, pode ter certeza, quando você estiver feliz, quando você estiver bem, quando você estiver dando certo e se realizando, elas também ficarão felizes por você. No fundo elas não estão te impedindo porque elas não gostam de você, porque elas não querem simplesmente aprovar, é que no fundo elas não sabem se aquilo vai ser bom, elas não acreditam em algo que elas não conhecem, e é natural, para te proteger, dizer que aquilo não é bom. É por isso que, quando a gente se torna adulto, precisamos arcar com as escolhas que nós fazemos, e procurar meios de fazê-las.

Então a persistência e a busca de pessoas que te conectem àquilo que você acredita, é um grande ponto-chave para fazer com que a sua boa ideia possa sair do papel. Não sei a ordem que isso poderia ser colocado, porque para cada um isso que eu estou contando tem maior ou menor importância cada um desses itens, mas tem algo que eu percebo que muitas vezes travou e ainda trava muitas pessoas que chegam até mim, e que muitas vezes me travou também, que é o medo da crítica, o olhar do outro. “O que o outro vai pensar de mim, como eu vou ficar diante dessas pessoas, e se elas não gostarem, e se não for tão boa a minha ideia, e se de repente eu for bombardeado na internet, ou pelo cliente, e por aí vai…”

Sim, tudo isso pode acontecer, não tem como se precaver dessa possibilidade, ainda mais no mundo totalmente conectado, onde o curtir e o descurtir está tão fácil. E a grande questão não é ficar pensando se o outro vai ou não vai, é olhar para o que você tem a realizar e dizer para você mesmo: "Eu acredito nisso e eu sei que vou colaborar a partir dessa ideia". Se você tem crença nisso, pode ter certeza que vai ter pessoas que vão te criticar, mas você vai ter muito mais pessoas que vão se beneficiar, e você precisa fazer essa escolha, de novo: para onde eu vou olhar, para quem eu vou ajudar ou para quem vai me criticar? É um jeito de encarar a situação, é uma possibilidade.

Talvez para dar um start, lembre-se: no mundo que está mudando, que está passando por crises, por transformações, nossas formas de se relacionar, de consumir, de agir no mundo, estão totalmente mudadas também. Então é um grande momento para começar qualquer coisa. Não pense que agora não é um bom momento, pelo contrário, agora é um bom momento. Basta você olhar para as grandes ideias e inovações que surgem em todas as áreas do conhecimento e em todas as áreas de serviço, elas surgem principalmente nos tempos de crise, porque é onde a gente precisa inovar, é onde a gente precisa ver as novas necessidades das pessoas e onde a gente pode também se conectar com aquilo que é importante para nós.

Então no mundo que está totalmente "no caos", aí sim é que você precisa fazer a sua vida valer a pena, e realizar aquilo que é importante na sua alma. Então talvez essa boa ideia só vai descobrir se ela é tão boa assim se ela for para a vida. E fique tranquilo: se você descobrir que, de repente, não era tão interessante, está tudo bem. Existem outras boas ideias que eu tenho certeza que você também carrega e que você pode realizar.

Mais vale uma ideia feita, executada, testada e desenvolvida ao longo do caminho, e melhorada no processo, do que ficar ali armazenada lindamente, sem nunca saber como seria viajar de fora.

Espero que esse episódio possa colaborar com você. Ele ficou um tanto grandinho, mas de alguma maneira eu me empolguei. Esse é um assunto que eu acredito que mobiliza a mim e a vocês e eu estou aqui, à disposição, para bater papo depois dessa conversa.

Um grande abraço, uma ótima semana para você. Tchau, tchau!

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