O poder da confiança (#049)

Por Fabiana Vitorino

Olá, seja muito bem-vindo a mais um episódio do podcast Conversa com Fabi.

Confiar, con-fiar, fiar tem a ver com fios, com estar junto, fazer junto, construir novas relações, tecer nos possibilidades, tecer os fios. Como anda a sua confiança em você mesmo, na vida, nas outras pessoas? Será que é possível confiar em si e desconfiar do outro? Ou confiar talvez até excessivamente no outro e não confiar em si mesmo? De onde será que vem essa força tão grande que é a de olhar para você e se validar, e saber que você tem a chave para fazer a sua vida ser plena? Será que tem a ver vida plena com confiança ou autoconfiança?

Fabiana, quantas perguntas… Será que existem respostas prontas para tudo isso? Bom, para quem já me conhece por aqui sabe que nós vamos construindo possibilidades. Eu do lado de cá, sendo psicóloga, mãe, consultora de carreira, uma caminhante e, construindo a si mesma a cada dia, a cada momento, vou oferecer aqui o meu olhar, um pouco da minha história e alguns recursos que eu acredito sim que podem ajudar você a descobrir o poder que a confiança tem na sua vida, na sua história, nos seus relacionamentos e no seu dia a dia. E, caso você se sinta desconectado dessa força interna, ou acredita que é impossível voltar a confiar em alguém ou em outras pessoas, fique aqui comigo, vamos até o fim juntos – ou juntas –, e quem sabe até lá você pode pensar um pouquinho melhor ou diferente em relação ao que você viveu, ao que te transformou e ao que te trouxe até aqui.

Essa conversa de hoje tem vários caminhos possíveis. Qualquer assunto que eu trouxer aqui eu acredito que poderia ser dito e costurado de várias maneiras, mas sempre gosto de partir daquilo que me toca, daquilo que me afeta. E por que será que eu decidi falar sobre esse assunto? Na verdade ele chegou até mim meio que intuitivamente e eu senti que seria uma boa forma de colaborar com as pessoas, e com esse grupo maravilhoso que está aqui, me ouvindo, tecendo comentários, levando esses recursos para a sua vida e sempre me dando aquele feedback depois, o que de alguma forma enche meu coração de alegria por saber que o que eu sei, o que eu de alguma maneira desenvolvo no meu trabalho e que também aplico na minha vida, pode ajudar tantas outras pessoas por aí.

Quando eu penso na palavra confiança, a primeira pessoas que vem na minha cabeça é a minha mãe, e eu já pensava assim antes mesmo de eu descobrir que de fato essa conexão é tão forte e é de lá que vem a nossa confiança: da nossa mãe. Depois eu fui aprender isso dentro da psicologia, nas constelações, enfim…

Mas sempre que eu pensava em algo na minha vida que me dava medo, ou que eu ficava com dúvida, que alguma coisa me desorganizada, minha mãe vinha à minha mente, porque ela sempre foi o meu recurso maior. Sempre foi no colo dela ou com as palavras dela que eu me reencontrei. Claro, em muitos momentos também foi onde eu tive os maiores desafios, os maiores enfrentamentos, de questionamentos, de rebeldia, de não gostar, de não concordar. Mas é nela que eu sempre também me reorganizo. Claro que, ao longo do tempo, e crescendo, eu fui descobrindo essa força em mim, na Fabiana, e depois em outras coisas também.

Mas por que eu gosto de colocar que é a mãe, né? E não é para trazer a mãe como culpada, como algumas pessoas gostam de dizer, "ah, na psicologia a culpa é sempre da mãe". Pelo contrário: hoje nós vamos olhar muito mais como a mãe cheia de recursos e que pode nos auxiliar.

Eu contei uma historinha – para quem não viu a postagem, eu vou trazer ela aqui. – Dias desses eu estava caminhando com o meu marido e a nossa filha à frente, a Bianca, e ela vai andando e vai explorando e nem olha para trás, e a gente ficou assim curioso em pensar "poxa, que interessante, que horas ela vai parar pra prestar atenção se a gente está aqui ou não". E só quando ela deu uma tropeçada que ela realmente parou e olhou para mim e para o pai e buscou a nossa ajuda, o nosso colo. Até então ela estava lá, toda exploradora, e ela sempre faz isso. E a gente ficou pensando sobre a força dessa confiança no pai e na mãe, como que a criança desde pequenininha já tem essa percepção de que os pais estão ali de alguma maneira, e que ela pode contar com eles.

Tudo bem, eu sei que isso nem sempre é a história de todas as pessoas, e que de alguma maneira pode ser que na sua história faltou o pai, ou faltou a mãe, ou mesmo que eles estavam lá, de alguma forma você não sentiu essa força da confiança, da proteção. Eu sei disso, eu conheço histórias assim. Mas o que eu quero dizer é que de alguma forma a confiança ela nasce dessa primeira relação. E não necessariamente com a mãe. A gente fala que é a mãe porque é a pessoa que cuida geralmente, mas é a força do cuidador, é aquele que ama, aquele que apoia, aquele que está ali diretamente disponível para a criança, e que a criança vai entendendo que ali está a sua referência. Quando eu preciso de algo, quando eu me sinto com medo, quando eu preciso do apoio, eu sei que o outro está ali.

Então essa pessoa, que pode ser pai, que pode ser mãe, que pode ser vó, pode ser qualquer pessoa que cuide daquela criança, daquele bebê, daquele “serzinho”, é que vai servir de referência, de força, para que aquela pessoa em desenvolvimento entenda que não está sozinha no mundo.

Pode ter certeza de que, se você é uma pessoa adulta, cresceu, se desenvolveu, com certeza você teve alguém em quem confiar, em quem tecer fios juntos, senão você não estaria aqui. Mesmo que às vezes a gente não reconheça, não valide, ou não valorize de fato quem cuidou de nós, seja por “n” motivos, é importante que você pare primeiro para prestar atenção nisso que eu acabei de dizer: se você está aqui, adulta, desenvolvendo a sua vida, você tem alguém que pôde cuidar de você, você teve alguém em quem você pôde confiar e que te auxiliou em vários momentos.

E aí que parte então o início da nossa confiança, dessa relação de saber que eu posso existir porque alguém está ali por mim. E isso vai me mostrando o quanto eu posso me abrir para o mundo, o quanto eu posso me abrir para os relacionamentos. Vai depender de como essa pessoa me ensinou o “vai, confia, explora, permita-se, se entregue”, ou o quanto ela me ofereceu o “não, meu Deus, é perigoso, você não pode, nunca, de jeito nenhum”. Claro, como os nossos pais, os nossos cuidadores são pessoas humanas e falhas, assim como eu agora, mãe e humana e, apesar de psicóloga, também falho com a minha filha, nem sempre a gente vai acertar com as nossas frases de permissão, de impulso para que o outro siga.

Então é natural que a gente fique com um monte de informação interna, crenças que você vai desenvolvendo sobre a vida, do quanto você confia ou não em si mesmo, do quanto você valida ou não aquilo que você pensa, aquilo que você sente, e o quanto você se fortalece internamente, para que você então se lance para a vida, se lance nos relacionamentos. E eu fico aqui imaginando que, a partir das experiências que você vai tendo, que eu fui tendo também, a gente vai ficando mais ou menos aberto a novos relacionamentos.

Se eu tive uma história, um relacionamento, seja ele de amizade ou afetivo, ou de trabalho, onde eu me abria, me expus, eu me coloquei, eu me mostrei e o outro não cuidou daquilo que ele recebeu de mim, o outro me julgou e me machucou, me magoou, a nossa tendência natural e humana pra se proteger, é fazer o quê? Fechar? Fechar a portinha do coração, fechar a portinha do relacionamento e acreditar que não vale a pena se expor, não vale a pena confiar, não vale a pena se abrir, porque o outro só vai te destruir. Só que quando você faz isso, você infelizmente perde a oportunidade de conhecer tantas outras pessoas que valham a pena.

Eu sei, não é simples, mas é um exercício necessário, muito possível e muito positivo, quando você, apesar das dores que sofreu, apesar das vezes que confiou e não teve esse retorno do outro, você se permite abrir de novo o coração, e confiar de novo. Só que às vezes esse caminho não é tão simples, porque pode ser que a pessoa que mais te magoou estava lá atrás na sua infância, e aí você precisa de ajuda para fazer esse caminho de volta, para aprender de novo a confiar no outro, que te deixou, que não ofereceu o que precisava, ou que ofereceu, mas você precisava de um pouco mais e aquilo ficou na falta. Mas tudo bem, eu gosto de pensar sempre que, independente de como foram as relações no passado, de como você confiou ou desconfiou, de como você olhou para você mesmo – porque sim, se você sente que o outro não é confiável, a tendência é que você também não confie tanto em você.

Quando eu perguntei no início, eu acredito que é quase impossível você confiar em você e não confiar no outro, ou confiar no outro e não confiar em você, porque na verdade é uma relação de mão dupla: se você acredita que você é uma pessoa digna de confiança, digna de valor, de ser amada e respeitava, você faz esse movimento para o outro, é quase natural. Então passa primeiro por um exercício com o outro, e aí eu vou aprendendo a confiar em mim, porque agora eu vou crescendo e vou desenvolvendo as minhas próprias capacidades, as habilidades de lidar com a minha vida, de lidar com o meu trabalho, de lidar com os meus relacionamentos, mas porque antes eu tive alguém que confiou em mim, e que eu pude confiar nele.

Lembrando de novo: nós somos humanos e falhos, então é natural, ao longo desse caminho, em algum momento, isso se desorganizar, você se desconectar de você ou do outro. E aí é o exercício bacana em que eu acredito muito: apesar das dores, dos momentos de desconfiança, dos momentos de desconexão com você, sempre é possível você fazer novas escolhas e fazer diferente. Pegando uma frase que volta e meia chega até mim – e ela já recebeu várias autorias, a gente fica até com dúvida, né? –, mas que diz assim: "Não importa o que fizeram com você, mas o que você faz com o que fizeram com você". Aí está a força, aí está a sua autonomia, a sua capacidade de fazer escolhas, de agir em prol de si mesmo, de agir em prol da sua própria vida, de fazer a sua vida valer a pena.

Você pode ter sofrido no passado, você pode ter sido alguém que, de alguma maneira, confiou muito e depois não teve esse retorno, e passou a ficar desconfiado, e passou a ficar fechado para o mundo, para os relacionamentos. Mas o fato é que você ainda está em tempo de escolher, de se abrir, de se permitir, porque, acredite, sempre há pessoas que valem a pena se relacionar por aí, seja no terreno das amizades, no terreno afetivo, no terreno dos relacionamentos de trabalho. Pode ser que um sócio te passou a perna, mas não quer dizer que você nunca mais vai encontrar alguém que vai fazer sentido na sua caminhada profissional. Então, se lance de novo, se permita, abra o coração, permita que outras pessoas entrem, que outras pessoas venham fazer parte da sua história, permita-se confiar novamente, tecer novos fios, tecer novas possibilidades.

Talvez pra isso você vai precisar sim curar algumas feridas, cuidar de algumas histórias, de algumas memórias que ficaram ruins, de algumas mágoas, mas eu te garanto: vale a pena voltar a abrir o coração, voltar a se abrir pro outro, porque esse exercício da confiança é para toda a vida. E você pode ter certeza: o outro também é tão humano quanto você, tão falho e tão cheio de vontade de se abrir, mas às vezes nessa dança que é o relacionamento, seja ele de qual nível, em qual lugar for, nós somos dois imperfeitos, fazendo de alguma forma para dar certo, se mostrando e se escondendo, e quanto mais a gente permite se mostrar juntos, mesmo na vulnerabilidade, mesmo no medo, mesmo na possibilidade de não ter o retorno total do que eu espero, ainda sim vale a pena se abrir pra intimidade. No amor, na relação de amizade, na relação de trabalho e, principalmente, consigo mesmo.

Quando você passa a olhar pra você com mais amor e confiando em quem você é, na sua história, nos seus recursos, você tem muito mais condição de fazer a sua história ser valorizada, a sua vida caminhar de acordo com os seus desejos.

Eu espero que você chegue até aqui podendo considerar outras formas de entender a força da confiança, o poder que ela exerce sobre nós, nas nossas primeiras relações, e ao longo da nossa história, e que o tempo todo você tem a chave para fazer a mudança, caso você ande um pouco desconfiado das outras pessoas.

Ah, me veio aqui uma outra coisa final: Sim, eu sei que é um risco abrir o coração, se expor, confiar, mas a vida é assim! Sempre há a possibilidade de um risco e de uma grande revelação se fazer quando você se abre, quando você se permite, quando você dá uma nova chance. Então eu espero que você esteja conectado com a abertura, e não com o fechamento.

Um grande abraço, te desejo uma ótima semana, e fico aqui aguardando o seu retorno e aquele papo que é sempre bom depois do episódio.

Beijo pra você, tchau tchau!

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