Conexões, reconexões e desconexões (#052)

Por Fabiana Vitorino

Essa conexão, não tem nada a ver com internet, ou na verdade não completamente. Estamos tão ligados a esse mundo digital, agora principalmente, que basta ouvir a palavrinha conexão e muitas pessoas me contam que a primeira imagem é justamente aquela do wifi. Não vou negar que essa é uma possibilidade, mas quando eu convido você a pensar sobre o poder da conexão na sua vida, na sua história, e as imagens, as sensações, as frases que vêm à mente quando a palavra conexão aparece, na verdade eu quero que você olhe um pouquinho mais profundo para isso.

Eu sou a Fabiana Vitorino, sou psicóloga, mãe e uma ‘conectadora de almas’. Eu acho que esse lugar foi sendo construído há muito tempo na minha vida, e está aí a minha primeira revelação: qual é a lição, a pequena ou grande lição que eu aprendi com essa história de conexão.

Desde pequeninha eu, sempre que chegava em um lugar novo, talvez no ano escolar, no início de ano, ou até na casa de pessoas conhecidas, num programa que eu fosse fazer com a minha família, sempre me preocupava em prestar atenção nas outras pessoas e ficava muito interessada em ajudar cada uma delas a se conectarem com o que estava sendo proposto ali, seja uma brincadeira, uma conversa, e eu ficava muito incomodada quando via alguém que ficava meio isolado sabe, jogado pelo canto, às vezes meio tímido, e era muito forte em mim esse movimento de ir lá e trazer essa pessoa para o grupo.

Fiz isso muitas vezes e continuo fazendo, na verdade eu descobri que essa era uma grande força que eu carregava na minha alma, mesmo que em muitos momentos eu tenha deixado de ficar conectada, porque eu também vivi algo que está meio que do lado oposto da conexão, que é justamente a exclusão, é o não estar conectado, é o retirar-se da conexão. Muitas cenas que eu vivi – às vezes até com dor, quando eu me lembro –, eu fui posta de lado, eu não era tão importante para aquele grupo, mas mesmo assim, mesmo ficando e, alguns momentos no isolamento, na exclusão, sendo posta de lado, eu não desisti desse meu jeitinho de fazer as pessoas se conectarem, mesmo que não fosse diretamente comigo, mas que fosse com algo que era importante para elas.

Muito bem, eu cresci, me desenvolvi e, através da psicologia, também pude continuar com essa história de ajudar as pessoas a se conectarem. Hoje de uma forma mais rebuscada, mais profissional, mas ainda com aquele desejo genuíno de criança, de fazer com que o outro não se sinta só, não se sinta perdido, não se sinta “não importante”.

Eu não entendia muito bem os motivos que me levavam a fazer isso, eu só sabia que eu ficava feliz, que era uma sensação boa, não porque eu queria ser lembrada como aquela que “uau, como você é importante”, mas porque parece que a minha alma me pedia isso, era algo que eu precisava fazer e que eu fazia muito naturalmente, e eu continuo fazendo. Hoje eu percebo que conecto as pessoas muitas vezes a elas mesmas, mas às vezes, também, a outras pessoas, às suas relações, aprofundando os vínculos que elas estabelecem com os outros, ou então a pessoa a uma ideia, a um projeto, a uma carreira, e ainda – uma parte que eu acho que é muito especial – quando eu posso ajudar as pessoas a se conectarem com algo maior ainda, com algo que está muito além delas, com algo que talvez seja até transcendente.

Estou contando um pouquinho desse meu lugar de ‘conectadora de almas’, ‘conectadora de pessoas’, porque essa palavrinha conexão sempre me ajuda a descobrir em que lugar estou na minha vida, na minha travessia. Quando eu paro para perceber o quão conectado ou desconectado eu estou, de alguma forma eu faço a minha vida valer a pena de novo. É como se eu fizesse um exame, aqueles exames de consciência, de pensar assim: "Poxa, será que as escolhas que eu estou fazendo, será que as relações que eu estou construindo, será que a maneira que eu estou aproveitando, vivendo meu dia, realmente reflete aquilo que de verdade me conecta ao outro, a mim e à própria vida?"

A conexão também me leva para um lugar que tem a ver com os meus pais, lá é onde tudo começou, a minha primeira conexão, a minha primeira vinculação, é onde eu existi, é onde eu passei a ser alguma coisa aqui nesse universo. Então é lá que eu aprendo essa força de fazer parte de algo mais, de uma família, de uma história, mesmo com dores, com dificuldades, com desafios, nós começamos porque estamos numa família, porque estamos conectados a algo grande. E depois essa conexão vai sendo transformada e vai sendo levada para outros lugares.

De repente a gente vai fazendo novos amigos e a conexão precisa existir, porque senão a amizade não acontece. Você já viu aquela história, de repente a pessoa te conhece, bate um papo, pronto, criou a conexão, criou empatia, deu vontade de conversar de novo e assim a gente manda uma mensagem, faz uma ligação, encontra para um café, e quando vê, virou amigo. Assim as amizades vão acontecendo e depois vem a história do amor, do afeto por uma outra pessoa, e de repente você de novo sente essa história de conexão. E talvez você até faça novas conexões com novos amores, e aí a conexão com o trabalho, para quem decide ser pai ou mãe, a conexão com filhos, que é essa corrente seguindo para baixo – veio dos meus pais, passa por mim e segue com a vida – e, de novo, a conexão com algo maior.

Para mim, a conexão com Deus, de alguma maneira é o que me ajuda a permanecer firme em momentos onde tudo está muito difícil de ser compreendido, mas também quando eu estou bem, quando estou feliz, quando me sinto grata, quando sinto que a vida está boa, está acontecendo no fluxo que eu desejo, eu também me lembro dessa conexão, dessa coisa forte e grande, que eu chamo de Deus mas você pode chamar de qualquer coisa. Tem pessoas que acreditam em força, em energia, em algo maior, e tem pessoas que não acreditam em nada disso, mas acreditam que podem promover a própria conexão delas com a vida.

E falar em conexão também tem a ver com desconexão. E aí brincando de novo com a história do wifi, eu gosto de pensar que, às vezes, na nossa vida, para ela continuar fluindo e para que a gente possa promover novas conexões, algumas precisam ser desconectadas. Então é importante que você pare para prestar atenção e perceber quais relações que não servem mais, que não estão mais te mantendo conectada com você, com a sua história, com a sua verdade.

Esse é um bom exercício que você pode fazer, é um jeito que eu faço na minha vida: cada vez que eu percebo que alguma relação, que algum projeto ou que algum pensamento, que alguma forma de sentir, está mais gerando desconexão, eu estou mais sem saber o que eu sou, do que eu quero, do que o contrário, eu percebo que aquilo não tem mais força, e talvez eu precise dar um passo retirando aquilo da minha vida. Eu sei que nem sempre isso é fácil, muitas vezes para mim não foi e ainda não é, é um desafio descobrir que talvez uma amizade já não é tão conexão, que às vezes um relacionamento afetivo já não gera tanta conexão, ou que um trabalho ou um projeto, algo que você vinha fazendo…

E eu também sei que nem sempre a desconexão imediata ou para sempre é o que vai resolver. Talvez tenha situações, pessoas e histórias que você pode promover uma reconexão, porque é como se tivesse perdido um pouco de força, um pouquinho de wifi, como se a frequência desse uma baixada, e você só precisa de um novo mergulho, de uma nova respiração, de um chacoalhar, de uma conversa profunda, pra voltar para os eixos de um jeito novo, de um jeito diferente, e aí a reconexão é possível. Mas às vezes, de verdade, o que precisa ser feito é uma desconexão. Às vezes pra conectar de novo a gente precisa desconectar, e assim a vida vai se fazendo, entre conexões, reconexões e desconexões.

Então eu te deixo com essa pergunta: O que hoje você percebe na sua vida que não te gera mais conexões? E que talvez está nesse estado meio ponto-morto porque você também parou de olhar, parou de cuidar, parou de fazer com que aquilo acontecesse, e se você voltar a olhar com amor, com carinho, uma reconexão possa ser feita. E quais as coisas na sua vida que, mesmo que você se esforce e faça muito, talvez a desconexão seja o único caminho?

Espero que você fique bem, que você receba esse conteúdo com abertura e alegria, promovendo um maior nível de autoconhecimento, de mudança, e de conexões na sua vida.

Te desejo uma boa semana, um grande abraço.

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