O trabalho e minha conexão com o mundo

Sim, eu sei como é colocar a carreira no centro da própria vida. Não só por ter trabalhado durante anos, ajudando pessoas a fazer suas escolhas profissionais, como consultora de carreira, mas porque já fui exatamente este tipo de pessoa: a que acredita que o trabalho é a parte mais importante da vida e que todo o resto é algo menor. Ledo engano!

Foi com a decisão de me tornar mãe que tudo mudou, dentro e fora de mim, e o trabalho, ah.. aquele que ocupava boa parte do meu tempo e da minha cabeça, passou a ficar num lugar menor, num primeiro momento, para depois encontrar um novo jeito de existir na minha nova vida.

Se você olhar para trás, verá que essa nossa relação com o trabalho já passou por inúmeras mudanças, no passar dos anos. Desde a separação total entre o lado profissional e os outros aspectos da vida em si. De um lado se produzindo, muitas vezes de forma até desconectada,  sonhando com uma vida ‘boa’, para somente após a aposentadoria, e no outro extremo,  ‘vivendo-se’, divertindo-se, convivendo-se com família e amigos. E agora, novamente, passamos por uma revolução na forma como nos relacionamos com nossos trabalhos, sejam eles formais ou informais, com o uso da tecnologia, do home office e tantas novidades que vão surgindo dia após dia. 

O cenário que vemos hoje é completamente diferente, a começar pela nossa busca em se trabalhar com algo que faça realmente sentido e que tenha maior conexão com quem somos, mesmo que ganhando menos (mas nem sempre), num tempo em que passou  a ficar quase inexistente a divisão entre trabalho e a ‘vida’.

A causa maior

Ok, mas esse não é um texto que levará você a concluir que precisa encontrar o seu propósito de vida e ser feliz,  e que, para isso,  é necessário encontrar ou construir o trabalho mais bacana e cheio de alegrias. 

Eu acredito na realização pessoal, mas penso que ela nunca estará desconectada da realidade de que vivemos, e que de certa forma essa minha energia empregada em me realizar em meu  propósito, e os resultados da minha realização, impactam no mundo em que eu vivo. Ou seja: 

É preciso saber que todos nós estamos a serviço de algo maior.

Por isso, a pergunta que realmente importa é: Como eu posso contribuir de forma verdadeira e honesta para este todo no qual estou inserido? 

Se nessa resposta você encontrar motivos que colaborem com o mundo, com o outro e também com sua realização, ponto para você!!

Porque não é somente sobre se completar e ser feliz com o que você realiza todos os dias (somado, claro, aos desafios, dissabores, dores de cabeça e pepinos que inevitavelmente existirão no seu caminho), mas é sobre compreender em que medida você está também contribuindo para o mundo em que está inserido.

É ainda decidir tirar o trabalho do centro da sua vida (como eu venho aprendendo todos os dias) e colocá-lo como uma parte de você.

E talvez a atitude mais desafiadora, mas igualmente necessária nesse aspecto será o abrir mão da necessidade de se sentir importante, ser famoso e acreditar que sua vida (ou jornada) só valerá a pena se estiver fazendo coisas grandiosas.

Cada ato de entrega no seu dia a dia profissional tem o seu valor, diante do outro, diante da vida. E cada pessoa que é impactada positivamente pelo que você faz já vale todo o seu esforço, sua disposição em servir, em fazer a diferença todos os dias.

Eu te convido a olhar para o seu trabalho. Não importa se é para poucas ou muitas pessoas, se traz pequenos, médios ou grandes lucros, se é para sobreviver, ou com qualquer outro propósito. Saiba que você faz parte de um todo e que a sua parte importa...e muito.

Para encerrar esse bate-papo, como terapeuta, preciso te dizer: De nada vale um grande trabalho se por trás dele existir uma pessoa desumana. Claro, invista sim em ser o melhor no que faz, mas não se esqueça de investir mais ainda em ser melhor no que você é! 

Cultive o humano que habita você, seja uma pessoa melhor, para si mesmo e para o mundo.

Fabiana Vitorino

Psicóloga, consteladora familiar sistêmica, consultora e mentora de carreira.