Confissões da alma: Padre Fábio de Melo e a síndrome do pânico

“A gente nunca sabe em que momento começamos a adoecer, pois somos desatentos ao que nos ocorre. Às vezes temos uma rotina de trabalho tão puxada que pouco a gente avalia daquilo que está vivendo.

O primeiro sintoma que senti da síndrome do pânico foi quando eu estava pousando para um grande evento em Fortaleza. Quando o avião tocou o solo eu comecei a ter dor no peito, vontade de vomitar e falta de ar. E à medida que foi chegando a hora do show, isso foi se intensificando. A primeira impressão que tive era de que eu estava tendo um infarto, que estava acontecendo alguma coisa fisicamente comigo.

E eu tinha um agravante, porque não iria voltar pra casa após esse show. Tinha outros dois shows seguidos na região. Quando cheguei em casa e retirei as malas do táxi, comecei a chorar, e se alguém me perguntasse por que eu estava chorando eu não sabia dizer. Era algo incontrolável e isso acabou durando quase oito dias.

Eu demorei para pedir ajuda médica, porque sentia vergonha. Eu falo com milhões de pessoas todas as semanas e sei, sem nenhuma vaidade, que meu ministério restitui o sentido da vida de muitas pessoas. Mas, de repente, eu já não tinha o mesmo que eu oferecia a elas. É muito difícil dar esse passo e pedir ajuda.

Naquela semana tive uma descrença absoluta em tudo. Não só em Deus, mas nas pessoas, nas instituições, nas situações. Eu cheguei a pensar que não tinha fé, que não tinha onde me agarrar. Eu não enxergava minha fé, não conseguia ver.

Com os medicamentos eu fui atendido e eu saí da crise muito rapidamente, em oito dias. Essa crise foi a mais aguda de querer morrer, de ficar trancado dentro do quarto de não querer sair debaixo da cama, de perder completamente o controle da minha vida.

Durante a minha carreira, em um  certo momento, eu acabei me tornando prisioneiro do meu próprio sucesso. Eu não me sentia senhor da minha própria vida. Eu não conseguia voltar pra casa por causa da minha rotina.

A casa não é um aglomerado de paredes, a casa é um sentimento que nos ocorre. Você desarma e é absolutamente necessário esse desarmar para você sair e continuar enfrentando a vida. E quando você não tem esse sentimento que lhe ocorre, que abraça, que reconforta você acaba ficando escravo de um sentimento com o qual vai se acostumando, que é o desassossego.

O padre durante muito tempo era aquele homem que nunca tinha problema, que ia participar dos momentos difíceis das famílias sem demonstrar nenhum envolvimento. Um ser quase supremo e isso não é verdade. É importante eu admitir a minha vulnerabilidade. Eu ganho o apoio de quem está perto de mim. Talvez seja por isso que o resultado do meu trabalho trouxe pessoas para perto de mim, pois elas se identificam comigo. Eu estou vencendo a síndrome do pânico e estou sendo muito bem amparado.

Eu tenho dito muito que a melhor forma de viver é fazendo um juízo final todos os dias, e a partir desse pensamento, ter a oportunidade de avaliar como nós estamos vivendo. Ter coragem de modificar na estrutura de nossas escolhas aquilo que nos mata, aquilo que nos retira a alegria. Devemos ter honestidade, porque a vida traz a fatura, não adianta fugir disso. 

Mais cedo ou mais tarde a conta chega.” 

Fonte: www.fabiodemelo.com.br

 

Correio.news