Ser feliz

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Não há nada mais irritante do que alguém que nos obrigue a sorrir quando não estamos a fim, ou nos cobre alegria em momentos em que esse sentimento não é espontâneo. Nenhum de nós é 100% feliz ou alegre, e até onde me foi possível compreender a natureza humana, quanto mais cedo descobrirmos isso, melhor.

A tristeza tem o seu lugar nas nossas vidas. É um sentimento natural e compreensível, que não deveria ser estigmatizado. Em pessoas saudáveis, a tristeza, o desalento, o desânimo, a frustração — ou qualquer outro sentimento desagradável que nos alcance — vêm e vão; são sentimentos passageiros, e a alternância deles em nossas vidas deveria ser entendida como um fenômeno tão natural como o fluxo das marés ou a mudança do tempo. Nosso desafio é entender essa dinâmica e não permitir que esses momentos perdurem na linha do tempo.

Os especialistas costumam dizer que a diferença entre tristeza e depressão é que o transtorno de humor (depressão) provoca uma tristeza persistente. Estar atento a essas nuances ajuda a proteger a nossa saúde psíquica e psicológica. Se, depois de duas semanas, uma tristeza aguda que oprime o peito e estilhaça o coração persistir, é hora de procurar ajuda!

Nenhum de nós tem a obrigação de ter sempre uma postura corajosa, destemida diante da vida. O medo e a hesitação fazem parte. Aceitar isso como uma realidade inexorável da vida nos ajuda a enfrentar situações difíceis do dia a dia com naturalidade. Pessoas saudáveis não devem reprimir esses sentimentos, mas lidar com eles de forma inteligente. Ter problemas ou limitações de qualquer ordem não é o fim do mundo. É importante, entretanto, que, sem nos cobrar perfeição, tenhamos discernimento e equilíbrio para descobrir a melhor maneira de lidar com cada situação.

Não seria exagero dizer que a maioria de nós não permanece a maior parte do tempo em estado de felicidade e harmonia. Estamos aqui na condição de aprendizes da vida, lidando com as nossas muitas imperfeições da melhor maneira possível. Permita-se o erro, não se culpe nem se sinta frustrado. Todos estamos no mesmo barco, almejando as mesmas coisas, enfrentando cada um nossos próprios obstáculos. O importante é seguir em frente.

Entretanto, quando é muito persistente esse sentimento de recolhimento, de retirar o time de campo, de não ousar de não avançar na busca da solução para um determinado problema ou desafio, é bom avaliarmos se esse medo é nosso aliado ou inimigo.

A única obrigação que temos em vida é assumirmos quem somos. E cada um descobre isso a seu modo, no seu tempo e da forma que melhor lhe convier. Que ninguém se cobre em demasia, já que todos somos imperfeitos. Lembre que, quando o obstáculo aparece, quando a dificuldade advém, surge também a oportunidade de darmos um passo à frente.

André Trigueiro

A força do um, Ed. Infinda, 2019.


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