Como lidar com a transitoriedade da vida

Por Veridiana Mantovani*

Esses dias estava lendo um belíssimo ensaio escrito pelo pai da psicanálise, Sigmund Freud, intitulado “Sobre a transitoriedade” e fiquei refletindo sobre o quanto a beleza está relacionada com o tempo.

A transitoriedade da vida se coloca para todos nós e lidar com o finito muitas vezes pode nos trazer medos e inseguranças. O medo de mudar, por exemplo, está relacionado com o temor do desconhecido e surge da nossa imaginação. Compreender que a mudança faz parte de nosso estado transitório faz toda diferença em nossas experiências.

E é justamente isso que Freud procura nos explicar, afirmando que o impermanente da vida faz com que ela tenha mais valor e que sua transitoriedade pode ser um incentivo a mais para realizarmos ações com maior senso de responsabilidade.

Nesse ensaio, Freud argumenta também que o fato de o tempo ser algo limitado aumenta a beleza das coisas, que o valor da transitoriedade é o valor da escassez no tempo. E ilustra recorrendo à natureza, dizendo que “uma flor que dura apenas uma noite nem por isso nos parece menos bela.”

A relação com beleza

Em tempos em que a definição do que é belo ficou convencionado aos padrões estabelecidos pela sociedade de consumo, é comum acharmos que a beleza se esvai com o passar dos anos, o que não é verdade, porque existe uma beleza intrínseca em cada fase de nossas vidas e que para enxergá-la e dela se apropriar é preciso ampliar conceitos para o além do estado efêmero ao qual de maneira geral nos apegamos.

Quanto maior a flexibilidade diante do novo, das transformações, mais leve e mais rápido será o processo das adaptações.

Estarmos abertos nos fará enxergar as possibilidades que a vida nos apresenta todos os dias e viver no presente nos colocará em um lugar de valorização pelo aqui e agora.

Ser transitório abre possibilidades ao belo e ao indelével que mora em cada um de nós.

*Psicanalista

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